domingo, setembro 09, 2007

Estarei em um longe mais longe nesses dias. Mas será logo ali, depois de um oceano de nada, de uns poucos dedos de mapa. O susto, advindo do cumprimento d’outra promessa, põe-me afoito. A mente, em estado de bagagem, quer abarcar. O corpo, em tremores, quer abarcar. Os olhos mal repousam, na busca de sinais. As caravelas já estão no porto. Sonhos cantarolam – ao mar!

sábado, setembro 01, 2007

E agora é hoje e agora – na hora do quase na hora de anoitecer.
Começo assim: sem começo, olhando ligeiro, atento à pontuação extravagante, insistente; ouvindo a alma a dar notícias da existência das coisas antigas, depositadas no fundo do pote, o fundo. A falta de propósito claro impede o fluxo da fala. O propósito escuro impele a fala. A palavra sai: sopro fraco, fragmentado, assobio desafinado. Os adjetivos fecham o cerco, querem invadir o castelo. Os adjetivos são impiedosos. Temem que, a qualquer momento, o ser atravesse as paredes e vingue.
Sigo assim: sem centro, imaginando a florada, o fruto, a semente do lado do avesso. Volto ao antigo, ao amor; relembro-me, no tempo de estar sempre sorrindo; revejo os olhos dos seres que então amei; reencontro-me amante intocado. A memória ferve. O sangue jorra. Neste momento, exato, o cerco está completo, as primeiras lanças atingem os portões cerrados. Os verbos se arvoram e – cantar! – gritam.
Dói assim: sem motivos. Dói dor fininha, delicada até, que mesmo sendo dor, é dadivosa. Volto-me ao presente. Atento à ciência do corpo, este vão. Exponho as carnes, os pelos, as manchas na pele, os joelhos, os ossos e, os outros eternos, cabelos. Recorto-me. Em meio ao terror da batalha, as rimas confortam, anunciam poções e ungüentos.
Encerro assim: sem mais, crente em palavra-alento.