sábado, julho 26, 2008

Pena.

No antes me preparava com cheiros novos e cores. Virava a casa em porto, respirava com capricho, sentava-me atento, sem gesto. Depois aprendi a morar no seu esquecimento. Consegui jeito de amar sem tocar; um amar sem forma, sem objeto. Aprendi o esconder, o tremer silente e outros modos certos. Hoje rimo escondido, tomo uma dose, releio, revejo, vejo-me só e confesso: com um novo truque, por igual, o final foi feio. Nem à espera eu estava e, assim mesmo, você não veio.

terça-feira, julho 22, 2008

Minguante

Ao chegar dos sonhos abri a janela. Os pássaros avisavam ser manhã. Os olhos, no entanto, encontraram luar. Eita planeta lindo! Eita deus extravagante! Eita sol, eita sol...vichi!
Vivi, faz pouco, na liberdade de ser um menino acordado dentro da história fabricada pela mente de homem dormindo. No sonho estive ocupado em afazeres impossíveis. Cumpria obrigação de arrumar um quarto para um bebê, cavar um túmulo para uma menina, preparar uma festa e para tudo tinha tempo, espaço, forças. Nada era triste ou alegre, porém me sentia aflito. A cova parecia pequena e no armário, onde deveriam estar somente brinquedos, havia muitos livros.
Acordei com a impressão de que o tema da noite foi a morte. Na vigília do dia recém começado medito o mesmo assunto.

quinta-feira, julho 17, 2008

Citação:

"Agora sei que o amor nos faz aproximar as coisas, habitá-las, que pelo amor as reconhecemos e que, depois de lhe recebermos a revelação, nada mais é preciso para nos sentirmos vivos." (Fernando Namora)

terça-feira, julho 15, 2008

Viver é coisa sem fim.
Na manhã, a água fervente escorre. O líquido negro invade o escuro. Na borra, no fundo do saco, resta um sussuro: viver, viver, viver.
Na página, no céu, no terreno – em branco, em azul, em preto – há o desenho. Ele não se deixa ver. No espaço há o som, há notas ainda em silêncio. A canção não se deixa ouvir. Na antecâmara o homem respira. Sorve o ar momentâneo com os olhos entreabertos, na busca de um foco, de um qualquer entendimento. Nada existe e está tudo pronto.
Viver é sem começo.

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sábado, julho 05, 2008

Reli:
Trechos deixados em cadernos antigos.
Entendi:
Não há o que arrumar, organizar, entender. Os papéis em desordem são somente isto: a desordem. Enxergo-me em desordem. Gostaria de ser outro - é o que enfim está escrito em toda parte. Todavia sou o um. E, à força desta vontade de transformação (transformização?), resisto. Não por medo ou por franqueza, mas pela urgência de acordo íntimo.
Pensei:
Fui à Índia levado por pressentimento. Fui para desconhecer. Fui para pressentir o que pode vir a ser a meditação. Lá, incapaz de entender as coisas mínimas e em meio à inimaginável balbúrdia, houve silêncios.
No tempo dos sonhos o mundo conhecido se apresentava. No tempo de olhos abertos apresentava-se o homem-um-só-em-meio-ao-mundo. O dever/direito, primeiro/último, era ouvir, testemunhar: o fora e o dentro. E unir.

quarta-feira, julho 02, 2008

Perguntou-me o homem: o que foi fazer na Índia? Sorri, meneei a cabeça, ensaiei um riso fraco e disse: fui pensar. Ele, suponho, pensou. Não suponho o que pensou, nem em qual idioma íntimo traduziu os sons do dizer: fui pensar. Houve um silêncio. Um silêncio-instante. E seguimos falando sobre trens, enquanto ele pilotava o carro, enquanto me perguntava: o que pensei na Índia? Vou pensar - penso.
Vou pensar.