domingo, junho 11, 2006

Exercício-diário.


Do vôo noturno desembarco. É – dizem – começo da tarde. Fusos misteriosos ocultaram-me no além. Quase perco a farra de hoje. Disseram-me à janela da existência de uma batalha: a metrópole tentará outra vez derrotar os pretos. Sou por Angola. Porém, não dedicarei mais atenção a tal peleja. Beberei meu café e depois vou à coleta.
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Deu-se a tarde. Cozinhei legumes - trazidos lá dos campos, sei lá por quem, guardados no gelo, por sei lá quem, conquistados com mãos minhas, trêmulas, porém capazes de repetir à maquininha os quatro números: o código secreto. Depois comi e à falta do licor, bebi outro café bem forte. Li em voz alta, uma das histórias de Leopoldo Lugones, em As forças estranhas, apresentando a minha filha a palavra deste camarada que ousou descrever, pela voz de uma testemunha, o fim de Gomorra. Sob esta chuva de cobre, anoiteceu.
Depois, no cinema: falas e imagens sobre o amor em tempos de intolerância. Romeu e Julieta não morreram cedo desta vez. Apenas um beijo, de Ken Loach, acaba em beijo.
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Eis-me aqui, no inevitável, no intransponível, no tempo obtuso: é domingo e é noite. A bem dizer sinto estarmos todos: os gatos, o rato, o outro rato, as princesas, os menestréis, os andarilhos em repouso sob as tendas e os outros muitos. As crianças acolhem-se entre as pernas distendidas. Os pássaros fizeram-se invisíveis. Incansáveis, os violinos sugerem um minueto. Já no sonho digo: com olhos cerrados, dancemos juntos.

2 Comments:

Blogger fernando a. stratico said...

Haroldo,
apareci por aqui em minha constumeira aparição fantásmica. Seus escritos me fazem bem, e devem fazer bem a muitos. Abraçao

8:57 AM  
Anonymous Anônimo said...

Looks nice! Awesome content. Good job guys.
»

10:18 PM  

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