quinta-feira, agosto 17, 2006

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É depois do dia. A pele respingada tremula. As batatas cortadas em quatro, a cebola em grandes pedaços, o azeite no além-mar inventado, o sal de outros mares e os restos da água tratada, saltitam na panela antiga. Lá, dentro do escuro, bilhões de substâncias engendram-se ao som brando do fogo.

É depois da guerra. A terra foi tocada pela escuridão da guerra. As máquinas vão se retirando do campo. Alguns soldados sorriem. Seus dentes querem ser um véu a empalidecer o horror tatuado em suas gargantas.

É depois do calor de agosto. A chuva fina é prenúncio da estação prometida. Todavia, paira sob o céu estrelado, uma ameaça de deserto.

É. Depois de tudo, resta-me sorver a sopa e oferecer essas letras embaralhadas.

1 Comments:

Blogger Roberto Prado said...

Acho que estamos vendo os penúltimos espasmos dessa desgraceira toda. É reconfortante saber que aqui sempre terá uma boa sopa para se compartilhar. Sorver a paz, de vez em quando, faz bem. Abração.

2:24 PM  

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