segunda-feira, agosto 28, 2006

Escreverei sobre a solidão. Isto está decidido. Porém, não encontro um mote. Falta alguma providência, para o assunto tomar seus rumos. Falta. É isto! Escreverei sobre faltas, ausências, esperas. E o farei em meio aos ruídos produzidos pelos outros, os todos, os vizinhos, os passeadores, os motoristas, os vira-latas e os cães prisioneiros.
Devo estar atento. Há aqui uma ameaça de erro. É fácil cair no embuste, na falsa crença, na idéia de estar entre eles, bastando para tanto um grito, sopro ou assobio. Sou eu – poderia dizer, enquanto estivesse flutuando em direção às ruas. Sou eu – gritaria o corpo sonhado, braços estendidos, colo macio. Se assim fosse...
Vejam só. Fico ruminando. Sinto uma dor nas asas. O tema escorre pelo nariz. Quase me afogo. Lamento e o meu lamento é bem silencioso. É um quase, é um tremorzinho. Calma – penso. Expiro longamente, afrouxo o pescoço, fecho os olhos um pouco. Rendo-me. Resumo.
A falta é de doçura. Ausente, então, é o doce. Doce é a espera de ser.