sábado, novembro 18, 2006

O poder de dizer, aqui, ausentou-se por uns dias. Máquinas adoecem. Esta minha deixou-se tomar por impulsos elétricos estranhos. O curandeiro de máquinas avisou-me: foi por pouco. Os invasores estavam decididos. Queriam comer as idéias palavreadas, as figuras e os guardados. Deu-se jeito. Quase nada se foi. O diário está ali mesmo, oculto sob seu nome, os versos esquecidos, as cartas não enviadas, os rascunhos sem fim, inda vivem também. Umas tantas descobertas ficaram acumuladas sob a capa verde do caderno verde.
Escrever agora é de precisão. As janelas estão fechadas. Os olhos estão abertos. A chuva é comovente. Ela me conta: ainda há água no céu. Conto: há dizeres contidos nas nuvens, enxurrada de sonhos borbulhando em esquinas, cânticos de pássaros, silenciados por um instante, guardando-se no desejo do perfume de terra molhada. Em meio à tempestade, tremo. Há medo e há fé.