sexta-feira, julho 21, 2006



Meu diário está guardado. Ando a procura de histórias de outros. Quero mentir. Porém nesta noite – sexta de festas em ruas iluminadas – os perso-nagens saíram a passeio, deixando-me só. Permaneço em casa. Sento-me com as pernas cruzadas. Alongo o pescoço. Aqueço o quarto. Borrifo perfume: absinto. Cuido de iluminar a gravura fixada sobre a escrivaninha. Ali está o Ganesha, escriba. Quisera saber descrevê-lo. Mas há tantos azuis, tantos vermelhos, tanta luz e histórias que me perco e desisto. Melhor contar-me. Afinal, com os dois olhos e os dois óculos, posso ter a impressão de ter duas pernas, células, mitocôndrias, hipófise, complexos, síndromes e unhas. De brinde há esta conversinha ininterrupta no meio da cabeça, le-vando-me a crer que existo. Logo... penso.