quinta-feira, julho 06, 2006


Sirvo uma dose. Hoje é qualquer festa. Qual quer? Qual quero? Quero uma intensa, qual o querer, qual chama renascida de um braseiro.
Tomo um gole. A festa é no hoje. É na noite deste hoje. É depois do dia. É logo ali, na beira das grades, na margem de onde o fogo parecia extinto.
Ao outro gole, a noite entorna o dia pelo gargalo e sopra, sopra, sopra, abana um leque, salta, pula, sopra, sopra, sopra. O leque é de muitas cores. O ar é de muitas cores. O invisível é de todas as cores. O perfume é de fumaça. A fumaça é, ainda, inventada.
O fogo segue em disfarce, quieto, recostado no ontem.
Com o machado em punho, vou para a casa do escuro. Inútil abrir os olhos, inúteis os óculos, inútil memória. Os paus, as canoas, as torres de vigia, os portais e os outros filhos das árvores mortas estão lá, esperando por mim. A serragem, guardiã do tesouro, prontamente avança. Minhas entradas estão ameaçadas. Uma lágrima, distraída, fica presa ali mesmo. Sua legião recua. As mãos correm em seu socorro, postando-se em prece. Os pés anunciam seus poderes, conduzindo-me de volta ao campo, ao aberto.
Nisso um vento, um último sopro do outono, presenteia o chão com folhas secas, carentes de transmigração. O machado se faz rastelo e se enfeita de dançarino. Aliado dos tantos sopros percorre o terreno e, pleno de dedos, reúne as dádivas.
Percebo. A festa de hoje é sem labaredas. Abro o leque, sopro o braseiro, olho o fogo do instante e danço. O amor aquece – canto.

2 Comments:

Blogger Marilia Kubota said...

Que bonito este.

11:13 PM  
Anonymous Anônimo said...

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»

10:18 PM  

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