sexta-feira, junho 23, 2006

(Brasil Quatro, Japão Um.)
Confesso. Quando aquele japonês conseguiu a façanha, descobri: eu estava do lado dele. Chorei. Quando o brasileiro, aquele que olha sempre para todos os lados, e que parece saltar feito coisa – quando aquela coisa rebelde e redonda chega aos seus pés –, também conseguiu, por igual chorei. Fiquei do lado dele, grato aos urros e apitos – rumores de alívio, de muito ar saindo das gentes.
Confesso. Não gosto de futebol. Nem me lembrava o motivo. Depois voltou esta onda, esta, de todos andarem lado a lado, para todos os lados e para lados outros, atentos a esses meninos fazendo aquilo. E veio a lembrança, o motivo. Neste tempo tem o jogo. O jogo é na hora do jogo. A hora é a de não haver mais nada. Nada além dos homens fazendo aquilo: jogar o jogo. E os outros, os que não jogam, ficam lá naquela hora. A hora de olhar o jogo.É um assombro. O mundo sai todo do jeito. O dia se desgoverna. As mãos ficam sem rumos.
Em tais horas, choro. É como estar sendo o pai, de filho na hora do parto. É como estar sendo um vivo, diante de um outro que morre.