sábado, janeiro 27, 2007

Notas para um Livro do Sossego

Fico na casa – deserto. O ar é coisa do imenso. Quero dizer. Isto no sempre, que qual o ar é do imenso. Então digo. E o dito fica na cabeça, caixa pequena, onde moram o ar, o sempre, o imenso e os outros nomes do imenso.
Realiza-se o sonho – silêncio. Não aquele interminável. Não o do espaço sem ar. Não o verdadeiro. É um silêncio de sonho. Nele caminho sem botas, sem chapéu, sem luvas. Meus pés tocam uma areia fria. Estou ainda na casa.
Rememoro a presença da morte. E aí: é melhor dar de ombros – leves, em ligeira rotação; esticar os pés em pontas, abrir braços em preparação de asas; sorver uma ou duas gotas de qualquer poção mágica; cerrar os olhos, cuidando de esticar o pescoço, e sorrir.
Quero crer em paz profunda. Quero a madrugada e estar desperto. Escrevo à beira da janela – margem do rio do mundo. Olho os vasos, o verde plantado na terra, a terra no plástico, o plástico tirado do fundo dos nervos das terras, da Terra.
Quero crer em conhecimento profundo, em saber possível de raízes. Súbita é a morte. Rápida e doce quando vem aqui, invade meu tronco, caule, seiva: meu sangue pensado. Súbito é o grito sonhado. Leve é o novo sono.