sexta-feira, outubro 26, 2007

...........................o-s-d-e-d-o-s...............


É quinta. Venho do cinema. Logo no início da ladeira, por estar a revolver imagens de dor ou talvez por poder rever ruas tomadas de gentes caminhantes sob chuva fina, ocorreu-me um tema novo. Dele já me esqueci. Porém sei, bem sei, da impossibilidade de fugir às minhas tarefas. Uma delas é investigar meus motivos. Outra, deixar escorrer, pelos dedos, uns traços.
Há, ainda, o meditar, observar o movimento e perguntar: quem comanda os dedos, estes que tracejam, dedilhando, excluídos da mão, esta excluída do braço, este afastado dos cabelos que envolvem a cabeça, morada dos olhos a percorrerem a página – anjo-verde-frondoso-decaído – em pranto-seiva, em branco?
É meia-noite. Os traços – os dedos – visíveis: um círculo, uma curva sinuosa, um círculo recostado a reta, um semi-círculo equilibrado sobre curva, antecedendo outro círculo recostado a outra reta, outro círculo seguido de curva sinuosa, esta última, qual a outra antes contada, cumprindo nesta trama o papel de multiplicar os objetos nominados, os imagináveis, os evocados.
Sem reencontrar o tema, sem novidade na investigação de motivos, vou me recolher. Vou ciente da incapacidade de falar neste momento sobre qualquer acontecimento além deste: estou a dizer, com um leve pesar pela ausência daquilo que, mesmo estando na ponta-dos-dedos, restou interdito.