domingo, março 30, 2008

Tempo. Movimento. Seres. Objetos.

No domingo, tomei um carro. O condutor queixava-se daquilo que me encantava: chuvisco fino e frio, nos ares de Curitiba em quase abril. Retruquei, em confidência, dizendo-lhe ter havido um tempo, um passado, quando este movimento me entristecia. No hoje, qualquer presente é presente – brinquei.

Seguíamos rota costumeira, cruzando com os grandes ônibus cheios de pessoas, atravessando as ruas cheias de pessoas e cães e árvores, além dos seres outros, os invisíveis. Havia, ainda, as coisas: casas, placas, palavras, lixo, malas, bolsas, sacolas, postes, estátuas, lâmpadas... Objetos, objetos, objetos – anotei. Agora os trago aqui, esses inanimados, querendo falar sobre a forte impressão por eles causada em mim. Qual menino-novo-no-mundo percorri com os olhos, naquela hora, a incontável-soma-de-coisas-existentes-no-mundo e perguntei: por que tantas?

Depois falei. Perguntei sobre o carro. O moço falou sobre a coisa que nos levava, sentados, ao encontro de outros seres, humanos sentados sobre suas cadeiras-coisa, em suas salas-cheias-de-coisas, à espera. Ouvi, fingindo-me crédulo. Falei mais um pouco, indicando endereço, querendo acreditar em minhas palavras e nas dele, com a mão pousada sobre a minha bolsa cheia de livros, cheia de histórias em trânsito entre uma casa e outra. Porém, estava tocado, como ainda estou, pela pergunta, aquela. Tocado pelo pensamento-bomba: objetos, objetos, objetos... para o que os temos tantos?

Agora o dia vai se acabando. Insisto em brincar, em manter-me em jogo. Lanço os dados querendo arriscar. A noite me provoca, pergunta por minha coragem. Quer saber se vou às ruas outra vez procurar. Escancara, entre as sombras, este dia-escrito, dia em que estive contido – objeto, objeto, objeto...