terça-feira, novembro 25, 2008

Sonhei estar com crianças. Íamos em perseguição a um livro escondido. Uma biblioteca, guardada por um homem-mau-de-história, era o cenário. Chegamos à conquista de uma edição rara do Pinóquio, mas não era este o volume procurado. Antes da conquista, acordei. Nem me lembro qual era o tesouro. Sonhei também ruas confusas e travessias perigosas. Acordei do avesso. Ainda tento ajustar ao corpo a alma amarrotada. Assim me apresento nas vésperas de cada jornada: manhã.
Depois vejo. Há luz. Os dias são de cores. As bromélias invadem os troncos fincados nos canteiros da rua. Os caminhos são rosados.
E ouço. Há ruídos. As máquinas persistem. Há as que roncam, as que trincam, as que travam e as que se abrem para receber e devolver as vozes do mundo.
Creio. Há fé. O inverno é em novembro e o agora é. Os sinos quase não mais existem e, mesmo assim, tocam-me. Tenho uma nova bússula. Uso óculos e máquinas. Anseio dizer façanhas. A cor é a do corpo - cor nenhuma e vária. Significo ao menor sinal da dor.

Hoje quis mudar o mundo. Era o fim da tarde, fim da jornada-do-homem-no-dia, quando encontrei os velhos. Marcas de dor beiravam seus cantos – bocas, olhos, dedos: fronteiras suas entre o dentro e o fora. Cogitei ações e métodos. Sonhei ofertas de dias novos, com outras e claras manhãs, outras tardes de sossego, outras noites de festa. Depois suspirei, exnxergando o engano. É tolice inventar um futuro para presentear aqueles que só necessitam de um novo passado.

Na noite, o desejo de sonho impede o sono. Sigo à procura de entendimento. Encontro uns ditos e uns silêncios. Disseram-me: antes de ser nasci. Sobre o antes disso nada disseram. Disseram: depois de ser vou morrer. Está tudo quieto. Os ruídos existem, mas estão lá na rua, fora do quarto, longe da cama. Os ruídos estão no além.