sábado, janeiro 10, 2009

Más notícias. Manhã. Foguetes disparados. Maus foguetes: barulho e fogo não-brando, não-útil. Não. Boa-nova: Consiglia Lattore canta o Tempo da Delicadeza, conta males-de-amores, sempre tão bons e, logo cedo, os sons das não-bombas ocupam a sala. O dia em curso – velocidade de cruzeiro.
&
Na tarde – 700 mortos em Gaza – uma vertigem. A ajuda humanitária não pode chegar à Palestina. Os diplomatas reunidos em lugares... Faço um café forte, brincando com as moças, ensinando: coloca-se muito pó, até quando se tem a impressão de ter passado da conta e, então, acrescenta-se mais um pouquinho. Um tanto do extrato do vegetal tão belo – verdes e flores – com água de qualquer fonte e temos o suco quente, sem o qual não se pode viver. O motorista a levar alimentos morreu. Façamos então uma revisão do estado de nossas vidas amorosas. Olha ali aquele menino, invista – disse. Está bom o café? Invista. O amor é possível. E se não for possível o amor, aquele, pode ser só sexo. Sexo, sexo, sexo – mesmo quando é ruim é bom! Ah, ah, ah, rá, rá, rá, ai, ai, ai, psiu... Amanhã é sábado. Amanhã o sabá.
&
Sábado. Sabá. Dia do senhor de alguns... Dia de poderes... Poder de cinema, poder de cerveja, poder de fechar barreiras, de fechar portas, dia de não entrar, dia de não poder deixar os alimentos, não antes da retirada dos depositados ali, à porta, parados, pois estamos no sábado... o sabá...
&
No cinema houve um momento. E há este outro. Nele, ouvir Tom Zé a estudar a bossa. Ora: O Céu Desabou. É a música. Ela diz. Nas palavras está escrito. Nos acordes está inscrito: o céu desabou. Ah é! Esqueci. Foi no cinema. No momento foi. Um pensamento: o medo de morrer pode matar. Depois outro. Esqueci as palavras certas. A música é excelente. Ah! Insensatez. Quando a morte começou a me matar foi no escuro. Aí eu disse: deixa disto, me larga, me esquece, vou viver até o fim. E fui ao cinema, comprei cigarros em caixa vermelha, com um filtro marrom chamado vermelho, o filme era imenso, a dor era grande lá na história, e a espera é grande quando nada se espera. Vou mudar alguns livros de lugar agora mesmo. Pensei, decidi, fiz. Tudo – uma porção de movimentos absurdos – enquanto o Tom Zé continua cantando, enquando estou a procurar maneira de contar o quanto quero saber por que insistimos em guerrear as guerras. O Ney Matogrosso canta: eu sou o homem de Neanderthal...nasci de um povo primitivo. As guitarras existem. Quero encontrar nas palavras o jeito, ou o trejeito, ou o que seja! Por deuses, é sábado! Sábado! Sabá! As sentinelas nos portões, nas margens das cidades sitiadas, estão em alerta. Haverá novos combates novos combates novos combates novas granadas – canta-se. Entorpecido: estou, sou, vou. O chão da casa está sujo. Muito sujo. Lembrei-me: Bubble, o filme. Entendi: há o oriente médio, isto porque há também o oriente próximo e outro, extremo. Que nome darão a essa guerra? Vontade de colorir. Vontade de vermelho para contar o sangue. Vontade de verde para contar o verde. Vontade amarela para imaginar um oriente amarelo. Vontade de dormir no leito de um rio qualquer, tripulando embarcação sem âncora. Nisso, no disco, aos apitos de um barco segue-se uma história da chegada de um canhão a um porto. Entendo: sincronias há. Vamos no mundo juntos, porém alheios ao mundo, porém alheios ao fato de estarmos juntos. Melhor encerrar – penso. Vou prosseguir – decido. Tremo no sabá. Direi: se há guerras, se há guerras, ainda, ainda, ainda, precisamos rimar, cantar, escrever e juntar, quiçá com rinha rimar ladainha, quiçá quicar – palavra que existe e, como qualquer outra diz nada e diz: coisas demais.