quarta-feira, setembro 27, 2006

...e do subsolo...

segunda-feira, setembro 25, 2006

Semana passada fui com meu filho-menino-homem até a porta daquele lugar. E fiquei lá, escorado nos muros, esperando o tempo grande de seus exames para o serviço militar. Entre um tremor e outro, li Salman Rushdie. Pensei – uma vez pensei ser aquela a última vez. Voltei à manhã horrenda de me ver visto, vistoriado, invadido pelos homens armados. Pensei – quando ele nasceu nem pensei que ele teria de pensar. Voltei à noite de esperá-lo sair de um útero, sair de dentro do mistério. Olhei. Vi uns homens-meninos armados, balançando-se, correndo, louvando um pano grande, homenageando as guerras. Li dezenas de histórias em Shalimar, o equilibrista, inspirando e expirando, maravilha da literatura e horror da guerra, beleza e feiúra. Sonhei. O mundo ia desarmado, esquecido já dos antes, das eras de matança – sonhei. Batalhas, no imaginado, seguiam. Não havia, porém, tolice nessa terra, nesse desenhado. Homens em luta de ser, em buscas de vidas longas, em construção de pontes, em destruição de muralhas, urravam em cada amanhecer, afugentando os pavores, atraindo a eternidade. O sonho de sempre sonhei. Desacordei. Dei-me a uma tristeza, a uma cisma de fracasso, pensando: passaram-se vinte e oito anos desde quando eu tinha dezoito e os meninos ainda têm de ir aos quartéis, ainda há os que dizem que isto é bom para eles, ainda se tem coragem de chamar esta coisa de serviço prestado à pátria. Depois suspirei. Foi de alívio vendo o moço fora de lá, grudado ao telefone, dando notícia de estar livre, pedindo-me: vamos logo, quero abraçar meu amor. Inspirei. Foi querendo dizer, outra vez, minha fé. Expirei: foi-se outra última vez!

terça-feira, setembro 12, 2006

solário



&

e/ou

...e no momento do encontro, as duas torres, outrora imagens de medonho potentado, dissolveram-se em bilhões de gotas, espalhando-se sobre muitas terras na forma de um véu.

...e no momento do gozo, os dois seres, outrora crentes na existência do pecado, dissolveram-se em ondas, devolvendo às terras sua seiva, deixando-se ao vento, em levezas de véu.

quarta-feira, setembro 06, 2006

...

Entre os guardados em minha gaveta de descrenças, mora a teoria da conspiração. O maldito, o não-bom e o mortífero caminham no mundo, não posso negar. A existência de homens lúcidos, dedicados à invenção de guerras e ao patrocínio das pragas, não me é oculta também. Mas passo ao largo, sempre que posso. E quando falo, posso sempre.
Acusações de ingenuidade ou indolência, e outras, intensas, incinero no interno rimador, acolhendo-as como sinais de conquista. Vivo entre homens e mulheres de bem. Conheço mais poetas do que tiranos. Na corrente, na vida, no fluxo dos afazeres, há sim angústia, desconsolo, dores sem remédio e fomes daquelas que jamais serão saciadas. Mesmo nisso, o tudo, não consigo enxergar diferenças tão grandes entre bandidos e mocinhos. Sumiremos todos.
Nisso pensava, olhando para a panelinha branca, assentada sobre o fogo brando, cozinhando um cereal nascido nos Andes. Acrescentei o missô, inventado no Japão, mexi um tiquinho, alonguei as costas, dando-me conta das tensões nas fronteiras do cóccix, este ossinho de nome lindo, capaz de guardar o peso do dia-mundo-vasto-mundo-se-eu-me-chamasse-carlos... E fui matutando maneira de melhor explicar...
Aí, deu-se. A de fazer o-de-comer é sempre a hora. Desentendi o desejo de dizer as coisas, de mandá-las escritas ao mundo eletrizado, mundo máquina. Mesmo assim, retornei. Desejo não é de entender – pensei. Desejo é de buscar, de guardar, de conter, de transformar em ação-de-gozo, desejo é fruto. E então, digo: tenho um plano; tenho um mundo prontinho, com pouco uso, sem dono e sem manual. Nele, a história dos inventos encerra-se ali pela invenção das bicicletas. A história das travessias de oceanos salta das caravelas ao tele-transporte dos corpos em estado de meditação. Os engenhos da propagação da palavra estacam no livro e – sem pedágio por jornais ou aparelhos emissores de ondas eletromagnéticas – chegam à telepatia. E assim para trás...