domingo, outubro 28, 2007

Para Li e Loy, Dú e TK

Para os filhos e seus parceiros deixo aqui umas cores:


Quando os que crescem tocam meus olhos, não posso deixar de homenagear o Tempo: o senhor das sementes, cantarolando em tom grave, dançando a Dança e compartilhando seus temas - o dom, o gene e o alento.



sexta-feira, outubro 26, 2007

...........................o-s-d-e-d-o-s...............


É quinta. Venho do cinema. Logo no início da ladeira, por estar a revolver imagens de dor ou talvez por poder rever ruas tomadas de gentes caminhantes sob chuva fina, ocorreu-me um tema novo. Dele já me esqueci. Porém sei, bem sei, da impossibilidade de fugir às minhas tarefas. Uma delas é investigar meus motivos. Outra, deixar escorrer, pelos dedos, uns traços.
Há, ainda, o meditar, observar o movimento e perguntar: quem comanda os dedos, estes que tracejam, dedilhando, excluídos da mão, esta excluída do braço, este afastado dos cabelos que envolvem a cabeça, morada dos olhos a percorrerem a página – anjo-verde-frondoso-decaído – em pranto-seiva, em branco?
É meia-noite. Os traços – os dedos – visíveis: um círculo, uma curva sinuosa, um círculo recostado a reta, um semi-círculo equilibrado sobre curva, antecedendo outro círculo recostado a outra reta, outro círculo seguido de curva sinuosa, esta última, qual a outra antes contada, cumprindo nesta trama o papel de multiplicar os objetos nominados, os imagináveis, os evocados.
Sem reencontrar o tema, sem novidade na investigação de motivos, vou me recolher. Vou ciente da incapacidade de falar neste momento sobre qualquer acontecimento além deste: estou a dizer, com um leve pesar pela ausência daquilo que, mesmo estando na ponta-dos-dedos, restou interdito.

sexta-feira, outubro 19, 2007



Ando sem vendas, com olhos multifocados a ponto de perceber a mordaça a conter suavemente os dedos. A boca vai solta, espalhada em dizeres.
Passo os dias envolto em palavras-armas: julgamentos, sentenças, leis.
No começo da noite corro, arrasto pesos, estico músculos nunca d'antes navegados, sob império de palavras-pontes: siga, respire, acredite.
Chego tarde às palavras-casa: águas e alimento. Repouso um tanto sobre palavras-portos: livro, história, idioma, ponto, acento.
Segue-se a noite e nela a palavra-invento: sonho um cometa, um eterno, um outro-dia, um à mão-livre, ao vento.
Na nova manhã, aspiro palavra-alento: conto.

segunda-feira, outubro 15, 2007

Leio.

Vôo em tempo: dadivoso.
Mal há tempo para palavra-dita, em momento de colheita: tempo de sorver palavra escrita. Falo das horas no dentro, no centro do dentro, naquele aonde e aquando há vislumbres de verdade-encontro.
Por sobre a metáfora suspensa vou, atento à necessidade de fazer-me leve, como a chuva fina que hoje esconde estrelas e, todavia, prateia a via, o antes feio, o duro asfalto-chão.
Alitero, por inteiro, sem poder de contar o quanto vejo-olho-cheiro-toco-escuto, por carência de saber silenciar o ego e o seu eco.

terça-feira, outubro 09, 2007

Estive a pensar, nestes dias santos, tantos, em horas de perguntas, poucas e poucas, sobre os sentidos e seus assuntos: visões, forças para sorver perfumes, arrepios a suceder os encontros entre seres, poderes necessários à recepção da música e falas. Daí segui em direção a certas verdades certas: as carícias e os sonhos.
Em vias de flutuar cogitei, pois existo. Voltei então à cena – querendo a vidência, a clariaudência, o dom das línguas, o conhecimento da quiromancia, um saber perfumado e os outros todos talentos dos quais careço – para decifrar o enigma: o perfeito.
Cá estou, atento à obra do Mundo e dos Mundos Todos. E, quando nisso, um vento...

domingo, outubro 07, 2007

Fui ao Longe. E Nele ainda estou.

Arrastei-me por corredores, entreguei-me a cadeiras flutuantes, recostei-me a muitas paredes de trens subterrâneos, conversei em idiomas desconhecidos. Vi o Fado, ouvi o Tejo, perdi-me em mapas, troquei endereços, troquei abraços, chorei diante dos Libros de um certo Manuel Valdés que, em madrugada madrileña, disse-me tudo o que a mim poderia então ser dito. E no enquanto ali meus sonhos percorria, o Pessoa, em sussuro, insistia:
A vida é breve, a alma é vasta:
Ter é tardar.