sábado, julho 29, 2006

ave
a ver
inverno


sexta-feira, julho 28, 2006

Na madrugada veio um chuvisco. Ainda não foi desta vez o começo da seca sem fim. Ela virá?
Na manhã sigo ao lado dos homens acordados. São oito horas e estamos em grande agitação. Os seres dos sonhos recolhem-se. Leio notas sobre a guerra, a interminável. Relembro uns versos. Ouço os latidos de um cão prisioneiro, pios de aves prisioneiras, ronco de motores à explosão. Conto as batidas do coração, conto as marteladas produzidas por um trabalhador que não vejo, conto quatro colheradas de pó, uma de açúcar, duas xícaras de água, três minutos e meio... Vou contando. Volto às notícias sobre a guerra. Desentendo o mundo. Não há qualquer motivo para prosseguir e prossigo.
Decido-me: às ruas! Ainda não foi desta vez o começo da chuva sem fim. Ela virá?

quinta-feira, julho 27, 2006

terça-feira, julho 25, 2006

...e entre os guardados do século XX...

POR FIM

I

a nave abandono
e sem pára-quedas te envolvo.

cabelos, pés e asas
lembra-me enfeitar
com vozes, versos, feitiço:

vem meu amor
olha meu coração.

II

o segundo
o momento

aqueço os cabelos
com novo chapéu

a dádiva
o vento

espreito olhos
intento

III


olha meu novo chapéu,
e seu bordado em pedrinhas.

no brilho da ida,
ranhura da volta,
caminho, meu testamento.


IV

estreito o verso e a alma.

alma minha, dos meus,
outra alma em negro tom.


***

moral da história:

por que perguntas?

sexta-feira, julho 21, 2006



Meu diário está guardado. Ando a procura de histórias de outros. Quero mentir. Porém nesta noite – sexta de festas em ruas iluminadas – os perso-nagens saíram a passeio, deixando-me só. Permaneço em casa. Sento-me com as pernas cruzadas. Alongo o pescoço. Aqueço o quarto. Borrifo perfume: absinto. Cuido de iluminar a gravura fixada sobre a escrivaninha. Ali está o Ganesha, escriba. Quisera saber descrevê-lo. Mas há tantos azuis, tantos vermelhos, tanta luz e histórias que me perco e desisto. Melhor contar-me. Afinal, com os dois olhos e os dois óculos, posso ter a impressão de ter duas pernas, células, mitocôndrias, hipófise, complexos, síndromes e unhas. De brinde há esta conversinha ininterrupta no meio da cabeça, le-vando-me a crer que existo. Logo... penso.

terça-feira, julho 18, 2006

É tarde e, apesar, há muitas luzes. Nas ruas, nas cabeceiras e escrivaninhas, no centro das aldeias e nos sacrários, instrumentos humanos permitem-nos teimar. Passaremos outra noite em claro, esfregando os olhos, como se fossem lâmpadas mágicas. Quem sabe, quem sabe, quem sabe...

segunda-feira, julho 17, 2006

terça-feira, julho 11, 2006

de Mumbai recebo notícias: bombas
dos jornais recebo absurdos:
condolências de condolezas
(terror e terror)
intento fugir
farei uma linha, um trilho encantado
no centro da folha branca
desta folha imaginada
deixarei uma nota
um
om
dos trens da Índia recebo perfumes:
gentes, pimenta, tabaco, óleos, curry
no fundo uma dor
no mais fundo:
o infindo
nada

quinta-feira, julho 06, 2006


Sirvo uma dose. Hoje é qualquer festa. Qual quer? Qual quero? Quero uma intensa, qual o querer, qual chama renascida de um braseiro.
Tomo um gole. A festa é no hoje. É na noite deste hoje. É depois do dia. É logo ali, na beira das grades, na margem de onde o fogo parecia extinto.
Ao outro gole, a noite entorna o dia pelo gargalo e sopra, sopra, sopra, abana um leque, salta, pula, sopra, sopra, sopra. O leque é de muitas cores. O ar é de muitas cores. O invisível é de todas as cores. O perfume é de fumaça. A fumaça é, ainda, inventada.
O fogo segue em disfarce, quieto, recostado no ontem.
Com o machado em punho, vou para a casa do escuro. Inútil abrir os olhos, inúteis os óculos, inútil memória. Os paus, as canoas, as torres de vigia, os portais e os outros filhos das árvores mortas estão lá, esperando por mim. A serragem, guardiã do tesouro, prontamente avança. Minhas entradas estão ameaçadas. Uma lágrima, distraída, fica presa ali mesmo. Sua legião recua. As mãos correm em seu socorro, postando-se em prece. Os pés anunciam seus poderes, conduzindo-me de volta ao campo, ao aberto.
Nisso um vento, um último sopro do outono, presenteia o chão com folhas secas, carentes de transmigração. O machado se faz rastelo e se enfeita de dançarino. Aliado dos tantos sopros percorre o terreno e, pleno de dedos, reúne as dádivas.
Percebo. A festa de hoje é sem labaredas. Abro o leque, sopro o braseiro, olho o fogo do instante e danço. O amor aquece – canto.

sábado, julho 01, 2006

(França Um, ... Zero)

Chorei o jogo, qual fosse um outro. Quando acabou, saí a passeio, ouvindo a voz de deus. E Ela dizia: não foi de todo ruim, afinal nós ganhamos quatro jogos. Quem perdeu foram eles e ele, aquele o das uvas.
Aí há os que acreditam ser melhor rezarmos pelos portugueses. Pois, pois, a coisa começa a me parecer razoável. Se os de lá enricarem com a taça de ouro, talvez façam caravelas e saiam à cata de pimenta, talvez errem o caminho, se atolem em calmaria e...