segunda-feira, janeiro 29, 2007

quando chovia, muito chovia
e os ventos por demais ventavam
sopros e águas, águas e sopros
era o que se via, era o que se sabia

as cordas, as teclas, os metais e os dedos
as telas, as tintas, os pincéis e os dedos
as letras, os sinais, os metros e os dedos
era a matéria que havia, pois a chuva seguia

os olhos abertos percorriam veios d’água
nas orelhas-conchas os ventos ressoavam
das mãos um mundo novo brotava

depois, foi a vez da estiagem sem fim
a tormenta ocultou-se entre outros guardados
na arca dos contos que contam o fim

sábado, janeiro 27, 2007

Notas para um Livro do Sossego

Fico na casa – deserto. O ar é coisa do imenso. Quero dizer. Isto no sempre, que qual o ar é do imenso. Então digo. E o dito fica na cabeça, caixa pequena, onde moram o ar, o sempre, o imenso e os outros nomes do imenso.
Realiza-se o sonho – silêncio. Não aquele interminável. Não o do espaço sem ar. Não o verdadeiro. É um silêncio de sonho. Nele caminho sem botas, sem chapéu, sem luvas. Meus pés tocam uma areia fria. Estou ainda na casa.
Rememoro a presença da morte. E aí: é melhor dar de ombros – leves, em ligeira rotação; esticar os pés em pontas, abrir braços em preparação de asas; sorver uma ou duas gotas de qualquer poção mágica; cerrar os olhos, cuidando de esticar o pescoço, e sorrir.
Quero crer em paz profunda. Quero a madrugada e estar desperto. Escrevo à beira da janela – margem do rio do mundo. Olho os vasos, o verde plantado na terra, a terra no plástico, o plástico tirado do fundo dos nervos das terras, da Terra.
Quero crer em conhecimento profundo, em saber possível de raízes. Súbita é a morte. Rápida e doce quando vem aqui, invade meu tronco, caule, seiva: meu sangue pensado. Súbito é o grito sonhado. Leve é o novo sono.

domingo, janeiro 21, 2007

SEI

Quando o temor se avizinha, por o sangue em circulação.
Ligar o rádio.
Regar.
Rememorar.
Sonhar viagem e contar os anos.
Já na primeira hora, o fluxo vermelho redunda em vontade: indício de força.
Seguir.
Corrigir a postura dos ombros.
Chamar o ar: vem meu senhor!
Continuar em pequenas ações.
Chorar – a lágrima é doce – pelo grande amor irremediavelmente perdido: no outro corpo, passado.
Imaginar a revolução: em passos, passos, passos e preces.
Na hora segunda, parar.
Entregar perguntas às nuvens.
Deixar o mundo voar.

domingo, janeiro 07, 2007

Ao ano!

Feitos os cálculos, dois mais zero mais zero e mais sete é igual a nove, o que talvez tenha algum significado conhecível. De minha parte somente percebo estar o nove parado ali, próximo ao oito, este infinito disfarçado, na vertical.

De qualquer sorte agradeço. Ganhamos novos números. Que estejam carregados de novos sentidos – é o meu desejo. Sentidos limpos: olhar atento, faro refinado, paladar delicado, grande capacidade para carícias e ouvido aberto às declarações amáveis.


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agosto de 2006



janeiro de 2007